segunda-feira, 16 de abril de 2012

A mobilidade é uma Fortaleza da nossa cidade?

Fonte: www.behance.net


Não é à toa que este artigo começa com uma interrogação no título. As perguntas que fazemos e nos fazemos são importantes para nos colocar no mundo, e para assumirmos também uma postura crítica e reflexiva diante da nossa realidade. Quando nos situamos em Fortaleza, questionamos se a cidade está madura no aspecto da mobilidade urbana. A capital cearense é acolhedora, hospitaleira em relação aos turistas; mas será que, além dos visitantes, os moradores têm no dia a dia as mesmas facilidades de se deslocarem pela cidade? O ir e vir não deveria ser um direito assegurado igualmente a todos, aos forasteiros e aos residentes de uma mesma cidade, como diz a Constituição Federal de 1988?

A discussão sobre mobilidade urbana em Fortaleza se intensificou recentemente desde que a cidade foi escolhida como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. É como se o futebol, paixão nacional, pudesse reacender um debate que estava adormecido. Essa tal mobilidade urbana é, na verdade, um detalhe de algo maior que é o planejamento urbano, a própria estruturação da cidade. É observar como a cidade é preparada para que os cidadãos tenham uma livre circulação nos trajetos cotidianos. A reflexão sobre esse assunto não se esgota na quantidade de vias, avenidas, ruas, viadutos, mas também alcança a questão das opções de transporte à disposição do fortalezense.

É um engano cometido por muitos políticos acreditar que a mobilidade urbana se resume apenas a obras de duplicação de rodovias, de viadutos majestosos, de asfaltamento de ruas e tapa-buracos. São casos de gestões públicas “inauguristas”, “obreiras”, que não enxergam de forma profunda as dificuldades diárias de se atravessar a cidade para ir ao trabalho e para os demais compromissos das nossas rotinas. Antes de continuar, devemos perceber que a mobilidade urbana precisa, sim, de obras e de investimentos, os quais sejam integrados com uma visão política cidadã, que pensa em transporte público eficiente e em qualidade de vida.

Fortaleza, como quinta capital brasileira e metrópole emergente no Nordeste, enfrenta essas questões da atualidade, recorrentes a todas as cidades que têm se urbanizado sem controle e com pouco ou inexistente planejamento. A cidade já não suporta a volumosa e crescente frota de veículos automotores particulares, que paralisam diariamente o trânsito e assim geram estresse na população. É possível que, em pouco tempo, se esse quadro se mantiver, tenhamos de ter rodízio de placas de carros em Fortaleza, seguindo o caótico exemplo de São Paulo.

O transporte coletivo, por outro lado, está defasado. O Metrô já virou lenda urbana, motivo de descrédito de consecutivas gestões governamentais, mesmo com a alternância democrática do poder. A tônica dos ônibus é em torno do preço da passagem, da meia passagem estudantil. Não que não sejam conquistas fundamentais dos fortalezenses, mas é preciso avançar na ampliação dos terminais de ônibus, na expansão da cobertura das linhas, no conforto para os usuários desse transporte e na reorganização de uma engenharia de trânsito mais condizente com a nossa realidade.

O que Fortaleza necessita é um conjunto de soluções urbanísticas e ambientais comuns a várias cidades que se modernizam (ou sonham com isso) neste início de século XXI. O transporte coletivo como prioridade é uma proposta viável para um modelo de desenvolvimento sustentável e para o aprimoramento da mobilidade urbana. A sociedade precisa se posicionar perante o poder público, para não aceitar medidas paliativas, reformas apressadas para “maquiar” a cidade e preparar a “vitrine” para 2014. E para que não tenhamos de esperar sempre por eventos internacionais como ocasiões ou desculpas para cuidar de fato da nossa cidade.


Marco Leonel Fukuda
Músico e estudante de Jornalismo

Um comentário:

Marco Leonel Fukuda disse...

Este texto foi produzido para a disciplina de Jornalismo Impresso II, do 5º semestre do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), sob a orientação do professor Ronaldo Salgado.